quinta-feira, 28 de fevereiro de 2019

Era do gelo: cientistas descobrem 'via expressa' que existiu entre a África e o Brasil milhões de anos atrás

Formações rochosas na Namíbia
Direito de imagemUNIVERSIDADE DA VIRGÍNIA OCIDENTAL
Image captionFormações rochosas na Namíbia deram as pistas para que cientistas concluíssem que por ali passavam blocos de gelo em alta velocidade, em direção ao Brasil
Centenas de milhões de anos atrás, quando nosso planeta passava por uma era do gelo e quando os continentes não ocupavam os mesmos espaços geográficos que ocupam hoje, havia uma "via expressa" entre a Namíbia (sudoeste da África) e o Brasil, por onde o gelo passava em alta velocidade.
É o que cientistas da Universidade da Virgínia Ocidental (EUA) afirmam ter descoberto, segundo estudo publicado recentemente no periódico PLOS One.
A descoberta foi acidental e começou a se desenhar alguns anos atrás, quando os geólogos Graham Andrews e Sarah Brown viajaram à Namíbia, país de paisagens desérticas e dunas, para estudar rochas vulcânicas.
Na expedição, eles depararam com uma formação geológica peculiar: em um deserto plano, havia centenas de colinas íngremes e alongadas, que se assemelhavam a dorsos de baleia.
É uma típica formação rochosa de lugares que em algum momento foram cobertos por geleiras - algo incomum em paisagens desérticas, o que chamou a atenção dos pesquisadores. De volta à universidade, Andrews e Brown descobriram que essas colinas ainda não haviam sido plenamente estudadas.
"(São) rochas de um período quando o sul da África era coberto de gelo", afirma Andrews em comunicado da universidade. "As pessoas obviamente sabiam que aquela parte do mundo esteve coberta de gelo em determinado momento, mas ninguém havia mencionado nada a respeito de como essas drumlins (como são chamadas as colinas) haviam sido formadas ou por que elas estavam ali."
A partir da medição das formas e padrões dessas estruturas rochosas, Andrews e seus colegas identificaram grandes sulcos, o que indica que blocos de gelo provavelmente passavam por ali em alta velocidade, deixando as profundas marcas nas rochas.
Formações rochosas na NamíbiaDireito de imagemUNIVERSIDADE DA VIRGÍNIA OCIDENTAL
Image captionPassagem do gelo é a responsável pelos sulcos nas formações rochosas da Namíbia

Do gelo ao aquecimento

"Esses sulcos demonstraram a primeira evidência de um fluxo de gelo no sul da África no fim da Era Paleozoica, que ocorreu 300 milhões de anos atrás", diz comunicado da universidade.
E esse fluxo terrestre de gelo percorria, segundo a pesquisa, centenas de quilômetros em direção ao bloco continental onde hoje fica o Brasil.
Outros estudos prévios apontam que esse período - o fim da era de gelo paleozoica - foi a última era glacial da história da Terra até agora, uma época em que o gelo avançava e retraía e em que os continentes não eram separados como agora, mas sim aglomerados na chamada Pangeia. A África e a América do Sul estavam, nessa época, ligadas uma à outra.
Segundo o estudo publicado no PLOS One, as descobertas reforçam uma crença prévia dos cientistas de que sedimentos geológicos encontrados no Brasil, na bacia do rio Paraná, foram trazidos por enormes fluxos de gelo vindos do sul da África.
A expectativa é de que as pesquisas sobre esse fluxo de gelo não deem pistas apenas de como era o planeta há 300 milhões de anos, mas ajudem os cientistas a entender como grandes blocos de gelo modernos se movem e reagem ao processo atual de aquecimento do planeta.
"Essas super-rodovias de gelo são, na verdade, a forma como as coberturas de gelo desaparecem", disse Andrews em entrevista ao jornal The New York Times.

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quinta-feira, 21 de fevereiro de 2019

O gigante foguete europeu que está sendo erguido na selva sul-americana

vista da construçãoDireito de imagemSTEPHANE CORVAJA
Image captionUnidade de lançamento europeia está sendo construída em solo latino-americano
Para se ter a melhor vista da base de lançamento espacial em Kourou, na Guiana Francesa, é preciso subir uma colina íngreme em meio à floresta tropical. A caminhada é árdua. Mas isso não é o pior do trajeto.
No topo, as árvores dão lugar a uma plataforma de observação de madeira com o letreiro "Casa Araignées" ("Casa de Aranhas") na entrada. Por todos os lados, há aranhas do tamanho de uma mão, e suas teias cobrem as vigas de madeira.
É necessário passar por elas com cuidado (a ideia de se enredar numa teia de aranha gigante é realmente aterrorizante) para observar a paisagem da floresta e as torres de lançamento de três foguetes: Ariane 5, Soyuz e Vega.
O maior deles, o Ariane 5, voa desde 1996 e, apesar de uma missão inaugural catastrófica, provou ser a maneira mais confiável no mundo para lançar satélites em órbita e além. Um Ariane 5 transportou recentemente a gigantesca espaçonave BepiColombo no primeiro estágio de sua longa viagem a Mercúrio. Também lançou alguns dos maiores satélites de telecomunicações, meteorologia e navegação do mundo.
Mas pegar carona em um Ariane 5 sai caro. Lançá-lo custa em torno de US$ 100 milhões (R$ 370 milhões) - os custos exatos raramente são divulgados. Concorrentes mais novos, como a SpaceX, de Elon Musk, prometem o mesmo serviço com economia de dezenas de milhões de dólares.
Em resposta, a Europa está construindo o Ariane 6 - um foguete multi-estágio de 62 metros de altura, capaz de lançar espaçonaves médias e grandes em diferentes órbitas. Com seu desenvolvimento custando 2,4 bilhões de euros (R$ 10 bilhões) e financiado pela Agência Espacial Europeia (ESA), tudo no novo lança-foguetes foi projetado para ser mais barato e mais eficiente que o Ariane 5.
guindaste e andaimesDireito de imagemRICHARD HOLLINGHAM
Image captionObras seguem com velocidade para cumprir prazo de inauguração
"Nosso objetivo é fazer algo que seja muito atraente em termos de preço e serviço aos clientes", diz Charlotte Beskow, chefe da ESA em Kourou, que admite que o custo não é o único fator. "Nós também temos a vontade política de ter nosso acesso próprio ao espaço para não dependermos dos outros."
Equipado com motores avançados e novos impulsionadores sólidos, o Ariane 6 terá versões regulares e supersônicas, dependendo da massa e do destino orbital da carga útil. Também está adquirindo uma nova plataforma de lançamento e um pórtico - uma estrutura que os engenheiros franceses do projeto descrevem carinhosamente como "Torre Eiffel móvel".

Mais moderno

Até agora, o pórtico de 90 metros de altura é apenas uma estrutura gigante de vigas. Mas, nos próximos meses, ele será coberto por painéis de metal. Ao contrário de seu predecessor, o Ariane 6 será montado horizontalmente e depois içado na torre de lançamento para finalizar montagem, abastecimento e teste. Portanto, algumas horas antes do lançamento, toda a estrutura será removida em trilhos para liberar espaço para o foguete na plataforma de lançamento.
"Foi o que fizemos nos velhos tempos do Ariane 4 e é o que fazemos com o Vega e o Soyuz, então é uma tecnologia comprovadamente eficaz", diz Beskow. "Desta vez, estamos fazendo isso em escala maior, mas é mais rápido, mais eficiente, permite que as pessoas trabalhem em condições seguras e, do ponto de vista meteorológico, é mais conveniente".
O lançamento desde o equador - onde a Terra gira mais rápido que em outras latitudes - ajuda a dar um impulso extra no foguete rumo à órbita. O lado negativo é o clima tropical. As áreas externas estão repletas de algas, musgo e mofo. Por isso, o interior da torre de lançamento será climatizado e cercado por pára-raios para proteger o foguete e a equipe.
aranhasDireito de imagemRICHARD HOLLINGHAM
Image captionA plataforma de observação com vista para o local de lançamento é o lar de uma população de aranhas enormes
Atualmente, são necessários 35 dias para preparar um Ariane 5 para o lançamento. Os foguetes precisam ser transportados entre diferentes instalações em uma extensa rede ferroviária. Com o Ariane 6, o objetivo é reduzir esse tempo para apenas 12 dias.
"O produto final será muito simples, muito aerodinâmico, ficará elegante - é assim que economizaremos tempo", diz Beskow. "Haverá menos manipulações, operações, transporte e gargalos - ele deverá oferecer tempos de resposta mais rápidos, maneiras mais rápidas de chegar ao espaço."

Desafio de engenharia

Mas a construção de uma nova plataforma de lançamento é apenas parte do desafio da engenharia. O mais impressionante está abaixo do solo. Da superfície, a plataforma de lançamento vai se parecer com a uma placa de aço e concreto, mas, uma vez concluída, sua estrutura de suporte alcançará cerca de 30 metros abaixo do solo.
De cada lado, um par de túneis de 20 metros de largura será construído para afunilar o escapamento das chamas e transportar a água jogada no foguete durante o lançamento.
"Nós chamamos isso de dilúvio - jogamos muita água para reduzir as vibrações no lançador e na carga útil", explica Beskow. "Isso também reduz efeitos colaterais tóxicos, por isso é muito importante".
Neste momento, o complexo de lançamento europeu é um vasto canteiro de obras com 600 trabalhadores empregados em dois turnos. Enquanto observo a cena, sete guindastes altos e finos balançam, concreto e entulho surgem à frente, faíscas voam enquanto os técnicos soldam as vigas, e há um barulho constante.
Com o primeiro Ariane 6 saindo da linha de produção em 2019, e o primeiro lançamento previsto para 2020, o tempo está acabando. Mas o engenheiro responsável, Frédéric Munos, exala uma confiança tranquila. Afinal de contas, esta é a sua quinta plataforma de lançamento.
andaimesDireito de imagemRICHARD HOLINGHAM
Image captionOs engenheiros do projeto se referem a ele como uma 'Torre Eiffel móvel'
"Nós temos de fazer isso corretamente, com bom design e sem acidentes", diz Munos, com naturalidade. "Ficaremos satisfeitos no primeiro lançamento, que será visto pelos olhos do mundo."
No início deste ano, quando a SpaceX lançou seu Falcon Heavy no Centro Espacial Kennedy, na Flórida, milhares de pessoas viajaram para assistir ao lançamento. Como a Guiana Francesa é relativamente isolada, menos pessoas devem testemunhar pessoalmente o lançamento de um Ariane 6.
"O problema é que ele está em um local ideal, porém remoto. Adoraria que mais pessoas viessem aqui para vê-lo, assim como vão para Houston e Kennedy", afirma. "Este é um ativo europeu e observá-lo será de cair o queixo."
Se você decidir fazer uma visita, lembre-se apenas de uma coisa: cuidado com as aranhas gigantes.
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quinta-feira, 14 de fevereiro de 2019

Astrônomos flagram buraco negro 'devorando' estrela


Impressão artística de um buraco negro com um raio X ao redor, que permite que sua taxa de rotação seja estimadaDireito de imagemNASA/CXC/M. WEISS
Image captionIlustração artística de um buraco negro com um raio-x ao redor, que permite que sua taxa de rotação seja estimada
Um telescópio a bordo da Estação Espacial Internacional captou sinais de um buraco negro "devorando" uma estrela. As imagens, detectadas em março do ano passado, foram analisadas por astrônomos e as conclusões foram divulgadas nesta quarta-feira.
Batizado de MAXI J1820+070, o buraco negro fica relativamente perto da Terra - a 10 mil anos-luz daqui. Os equipamentos da Estação Espacial detectaram um imenso jato de luz de raios-x, que chamou a atenção dos cientistas.
Depois de analisar o material, os cientistas concluíram que se tratava de um fenômeno interessantíssimo: um buraco negro observado em meio a uma explosão, uma fase extrema em que ele emite rajadas de energia enquanto absorve um amontoado gigantesco de gás e poeira de uma estrela próxima.
"Muitos milhões de buracos negros existem em nossa galáxia. Nós só os vemos quando estão em um sistema binário com outra estrela, uma estrela normal como o nosso sol. Os buracos negros podem puxar material da superfície da estrela, acumulando material, pouco a pouco, na forma de um disco - chamado disco de acreção - ao redor dele", explica à BBC News Brasil a astrônoma Erin Kara, pesquisadora da Universidade de Maryland e principal autora da descoberta.
"Às vezes, ocorre uma instabilidade, e uma avalanche desse material estelar cai no buraco negro, criando uma enorme energia e radiação, na forma de um jato de emissão de raios-x da região muito perto do buraco negro, chamado de coroa. Temos agora novos resultados sobre a extensão espacial e a evolução da coroa e do disco durante uma explosão."

Detecção

Essa radiação captada pelos equipamentos da Estação Espacial, rastreada pelos cientistas, comprovou-se como oriunda do buraco negro MAXI J1820+070. Astrônomos passaram a seguir a pista, detectando "ecos" dessa explosão. A junção dessas informações resultou em novas evidências sobre como os buracos negros evoluem durante uma explosão.
A descoberta foi anunciada em encontro da Sociedade Americana de Astronomia realizado nesta quarta em Washington e é a reportagem de capa da revista científica Nature desta quinta-feira.
Segundo as evidências, o buraco negro consome quantidades de material estelar e, enquanto isso ocorre, sua coroa - ou seja, o halo de elétrons altamente energizados que o circunda - encolhe significativamente. No caso observado, ele caiu de uma extensão de cerca de 100 quilômetros a apenas 10 quilômetros em pouco mais de um mês.
Estação Espacial InternacionalDireito de imagemNASA
Image captionAs imagens foram obtidas na Estação Espacial Internacional
Nunca antes tal fenômeno havia sido identificado pela ciência. As evidências apontam para o fato de que esse processo seja a chave da evolução de um buraco negro. "É a primeira vez que observamos esse tipo de evidência, de que a coroa está diminuindo durante essa fase da explosão", comenta o astrônomo Jack Steiner, do Instituto Kavli de Astrofísica e Pesquisa Espacial do MIT.
"A coroa ainda segue sendo algo bastante misteriosa. Ainda temos uma compreensão pequena do que ela é. Mas agora temos evidências de que a evolução do sistema é baseada na estrutura da própria coroa."
Quando o buraco negro foi detectado pelos astrônomos, em março do ano passado, logo em seguida eles começaram a observar sua interação com a estrela próxima. "Ele estava quase completamente desobstruído, então tivemos uma visão muito clara do que estava acontecendo", afirma Steiner.
"Durante nossa observação, o buraco negro passou de totalmente inobservável para uma das fontes mais brilhantes do céu. Isto apenas em alguns dias", conta Kara.

O fenômeno

Uma explosão do tipo ocorre quando um buraco negro suga enormes quantidades de material de uma estrela próxima. Esse material se acumula ao redor do buraco negro, em um vórtice giratório conhecido como disco de acreção, que pode chegar a milhões de quilômetros de diâmetro. No caso estudado, tratava-se de um buraco negro pequeno, de "apenas" 10 vezes o tamanho do nosso sol.
O material nesse disco gira mais rapidamente quanto mais perto do centro está. Esta diferença de velocidades gera um atrito, que acaba aquecendo o disco. Esse calor enorme, em uma escala de milhões de graus Celsius, provoca verdadeiras avalanches, fazendo com que o gás da coroa seja "derramado" no buraco negro central.
No caso observado, conforme os cientistas relataram, seria o equivalente a um Monte Everest de gás por segundo - o que provocou uma explosão que durou o equivalente a um ano.
Os pesquisadores passaram a coletar, então, medições precisas da energia e da frequência das emissões de raios-x durante a explosão. Notaram que havia dois tipos de fótons, os de baixa energia - provavelmente emitidos inicialmente pelo disco - e os de alta energia - aqueles que, ao que parece, interagiram com os elétrons da coroa. A defasagem entre eles provocou "ecos".
"Agimos de modo semelhante aos morcegos, que usam a ecolocalização para mapear uma caverna escura", compara a astrônoma. "Utilizamos, no caso, os ecos de luz para medir a região próxima ao buraco negro que não pudemos resolver espacialmente com nossos telescópios."
Buracos negros são visíveis ao puxar material da superfície de estrelas, formando um disco ao seu redor, e podem emitir raios X quando esse material é engolidoDireito de imagemNASA/JPL-CALTECH
Image captionBuracos negros são visíveis ao puxar material da superfície de estrelas, formando um disco ao seu redor, e podem emitir raios-x quando esse material é engolido
Ao monitorarem essa radiação, os astrônomos observaram que, ao longo de um mês, a defasagem entre os dois tipos de fótons caiu muito. O que sugeria que a distância entre a coroa e o disco de acreção também estaria diminuindo. Ou seja: para evoluir, o buraco negro estava "consumindo" o material do seu halo - constituído basicamente de material estelar. Em outras palavras, o buraco negro estava devorando uma estrela.
De acordo com Steiner, este foi o primeiro caso inequívoco de que uma coroa estava encolhendo enquanto o disco permanecia estável.
"Até então, só havíamos observado esse tipo de 'eco' de luz em buracos negros supermassivos, de milhões ou bilhões de massas solares", completa Kara. "Buracos negros estelares como o J1820 têm massas muito menores e evoluem muito mais rápido. Podemos observar as mudanças em uma escala de tempo humana."
Ou, dizendo de um modo mais claro: a partir de análises de fenômenos como este o ser humano consegue, de ponto de vista de um tempo mais palpável, novas peças para o complexo quebra-cabeças que tenta explicar a formação e o funcionamento do Universo.
"Isso é importante porque há muito tempo existe um debate sobre o que de fato impulsiona a evolução de um buraco negro: se o disco ou a coroa", comenta Kara. "Com nossa pesquisa, descobrimos que a coroa conduz a evolução."
Este entendimento representa muito mais do que pode parecer. Isto porque, conforme a astrônoma lembra, no centro de todas as galáxias massivas estão buracos negros supermassivos. E apesar de eles serem mil vezes menores do que as galáxias onde residem, eles acabam funcionando como os principais condutores da evolução da própria galáxia.
Impressão artística de um buraco negro emitindo raios de energia após consumir uma estrelaDireito de imagemESO/L. CALÇADA
Image captionImpressão artística de um buraco negro emitindo raios de energia após consumir uma estrela
"Esse processo ocorre por meio de episódios de acreção que duram milhões de anos", comenta Kara. "Se quisermos entender como os buracos negros consomem material e afetam seus ambientes, temos de estudar os buracos negros 'menores', encarando-os como análogos - menores e de evolução mais rápida."
Procurado pela reportagem, o físico brasileiro Rodrigo Panosso Macedo, que estuda buracos negros e atua como pesquisador da Universidade Queen Mary de Londres, analisou a importância da descoberta.
"Esse sistema em menor escala tem as mesmas características de outros sistemas muito maiores formados por buracos negros supermassivos e discos de acreção. Buracos negros supermassivos são os que estão, em geral, no centro das galáxias. No caso, o que esses pesquisadores conseguiram foi monitorar mudanças na dinâmica de acreção de material e emissão de energia em escalas temporais que nós conseguimos medir", comenta ele.
Assim, o que os astrônomos esperam ter feito foi ter estudado uma miniatura do centro de uma galáxia, ou seja, compreender um pouco melhor como funciona a evolução da galáxia.

O que é um buraco negro?

A existência dos buracos negros foi idealizada pela primeira vez em 1783 pelo geólogo britânico John Michel (1724-1793). A teoria acabou ganhando corpo com um texto de 1796 do matemático francês Pierre-Simon Laplace (1749-1827).
Mas só no século 20 o conceito foi comprovado. Primeiro com a teoria da relatividade de Albert Eintein (1879-1955), depois com uma sucessão de teorias e, posteriormente, com evidências astronômicas.
O mais massivo buraco negro conhecido hoje é o que está no centro da galáxia NGC 1277. Foi descoberto em 2012 e é 4 mil vezes maior do que o que existe no centro da Via Láctea, a nossa galáxia. Isso significa que ele teria uma massa 17 bilhões de vezes maior do que a do Sol.
Ilustração de um buraco negro com massas de gás ao seu redorDireito de imagemNASA/M. WEISS
Image captionIlustração de um buraco negro com massas de gás ao seu redor
Por definição da NASA, a agência espacial americana, "um buraco negro é uma região no espaço onde a força de atração da gravidade é tão forte que nem a luz é capaz de escapar". "A forte gravidade ocorre porque a matéria foi comprimida em um espaço minúsculo. Essa compressão pode ocorrer no final da vidas e uma estrela", diz texto divulgado pela agência.
Como nenhuma luz escapa aos buracos negros, eles são invisíveis. "No entanto, telescópios espaciais com instrumentos especiais podem ajudar aa encontrar buracos negros. Eles podem observar o comportamento de materiais e estrelas que estão muito próximos dos buracos negros", esclarece a agência.
Existem três tipos de buracos negros. Os primordiais são tão pequenos quanto um único átomo, mas com a massa de uma gigantesca montanha. O tipo mais comum é o de tamanho médio, os chamados estelares - são aqueles cuja massa pode ser até 20 vezes maior do que a do Sol e podem caber dentro de uma bola com diâmetro de cerca de 15 quilômetros.
Os maiores são aqueles chamados de supermassivos - há evidências de que toda grande galáxia tenha um deles em seu centro. O buraco negro que existe no centro da Via Lácta se chama Sagitário A.

Fenômeno semelhante em buraco negro gigante

No mesmo evento da Sociedade Americana de Astronomia, foi apresentado nesta quarta-feira um outro estudo realizado por astrônomos a partir de raras imagens do céu captadas em novembro de 2014.
As cenas também evidenciam um buraco negro se "alimentando" de uma estrela - mas, no caso, trata-se de um buraco negro supermassivo, 1 milhão de vezes maior do que o Sol, no centro de uma galáxia a 300 milhões de anos-luz da Terra.
O astrônomo Dheeraj Pasham, pesquisador Instituto Kavli de Astrofísica e Pesquisa Espacial do Massachusetts Institute of Technology (MIT), nos EUA, e principal autor do estudo, explicou à BBC News Brasil um pouco sobre a descoberta, que será detalhada na edição desta semana da revista Science.
Pasham destacou que a equipe identificou um padrão na emissão dos jatos de raio-X - enquanto o buraco negro se dedica a devorar a estrela, a radiação é emitida em pulsos a cada 131 segundos, e estes persistem por 450 dias.
"Este método pode ser utilizado para medir a atividade de buracos negros", resume o cientista.
"Atualmente, acredita-se que quase todas as galáxias contêm um buraco negro supermassivo em seu centro. Mesmo que esses buracos negros tenham menos de 0,1% da massa de suas galáxias hospedeiras, eles parecem, de alguma forma, controlar o crescimento de seus hospedeiros", explica Pasham. "Portanto, se pudermos entender como os buracos negros supermassivos crescem, podemos usar esse conhecimento para compreender diretamente como as galáxias evoluem."
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quinta-feira, 7 de fevereiro de 2019

Como planetas são criados? Megacolisão em ponto distante do Universo dá pistas

Ilustração artística de um exoplaneta rochosoDireito de imagemNASA
Image captionDescoberta foi feita a partir de observações de um sistema estelar a 1,6 mil anos-luz de distância
Astrônomos dizem ter a primeira evidência de uma colisão direta entre dois planetas em um sistema estelar distante.
Eles acreditam que o evento cósmico produziu um mundo rico em ferro, com quase dez vezes a massa da Terra. Uma colisão semelhante muito mais próxima de nós teria levado à formação da Lua há 4,5 bilhões de anos.
A descoberta foi feita por astrônomos nas Ilhas Canárias ao observar um sistema a 1,6 mil anos-luz de distância. Os planetas estudados giram em torno de uma estrela parecida com o sol chamada Kepler 107 na constelação de Cygnus.
Acredita-se que um dos planetas, Kepler 107c, tenha um núcleo de ferro que compõe 70% de sua massa, com o restante consistindo possivelmente de um manto rochoso.
Outro planeta mais próximo da estrela deste sistema, Kepler 107b, é 50% maior do que a Terra, mas tem metade da densidade.

Colisão teria ocorrido a mais de 60 km/s

Os cientistas acreditam que o planeta rico em ferro foi formado quando colidiu frontalmente em alta velocidade com outro objeto, o que teria desprendido a parte mais leve de sua camada externa.
Eles calcularam que os planetas deveriam estar viajando a mais de 60 km/s no momento do impacto.
Zoë Leinhardt, pesquisadora da Universidade de Bristol, na Inglaterra, e coautora do estudo, explicou que foram usadas simulações de computador para testar as teorias.
"Antes, haveria dois objetos onde Kepler 107c está, e eles teriam colidido. Agora, há apenas o 107c", disse ela à BBC News.
"Outra possibilidade é que o 107c tenha sido atingido várias vezes por objetos menores. O problema com essa teoria é: por que isso aconteceu apenas com o 107c? Seria um pouco mais fácil de entender se fosse um evento único, mas isso não significa que tenha sido apenas um evento."

Sistema estelar seria 'um local violento'

Foto do Telescópio Nacional Galileu, nas Ilhas Canárias, com nuvens ao fundoDireito de imagemGETTY IMAGES
Image captionAs observações foram feitas no Telescópio Nacional Galileu, nas Ilhas Canárias
Chris Watson, da Queen's University, na Irlanda do Norte, liderou a pesquisa e disse que este sistema planetário "teria sido um lugar violento".
Agora, estamos vendo o que restou desta colisão em alta velocidade entre dois objetos, afirmou.
"Encontramos dois planetas em uma órbita muito semelhante, em torno da mesma estrela, mas com densidades muito diferentes", disse à BBC News.
"Um é rochoso, e o outro é feito de um material muito mais denso, provavelmente de ferro. A única maneira de realmente explicar isso seria que, em um deles, uma superfície rochosa tenha sido removida por uma colisão conjunta."
Como sistemas planetários se formam
Outra teoria - de que a radiação da estrela-mãe teria sugado o gás do que seriam planetas do tamanho de Netuno - foi descartada. Este processo teria feito com que o 107b fosse mais denso que o 107c e não o contrário.
A pesquisa publicada na revista Nature Astronomy levanta novas questões sobre como sistemas planetários se formam e evoluem em partes distantes do Universo.
Leinhardt explicou que os planetas em questão provavelmente se formaram em um ponto mais distante da estrela e então migraram, enquanto a gravidade da estrela-mãe sugava material gasoso, um processo conhecido como acreção.
"À medida que a acreção ocorria, os planetas estavam sendo torcidos, arrastados e interagiam com aquele disco de gás - e também se moviam. Enquanto se moviam, chegavam o mais próximo possível um do outro", explicou.
Pode ter sido durante esta fase que o impacto ocorreu: "Talvez, conforme esta migração ativa ocorria e matéria estivesse se acumulando na estrela central, isso tenha causado uma instabilidade em algum lugar - e gerado um abalo", disse Leinhardt.
Esperamos que você tenha gostado desta informação! Caso queira debater ou tenha alguma dúvida referente ao assunto, será um prazer recebê-lo na sala de física, estamos lhe aguardando!


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